O ano que não vivi.

underwater photography of woman

Foto por Engin Akyurt em Pexels.com

O título está catastrófico, eu sei. Mas é assim que vejo um ano repleto de coisas pesadas, preocupações e nenhuma linha. 2.019 sempre será lembrado como o ano em que não consegui produzir. Não saiu livro nem conto. Mal consegui colocar algumas palavras por aqui. Não dei conta, só segui e nós já sabemos que sobreviver não é viver e isso, por si só, justifica o título.

Sinto que em alguns dias o tempo correu mais rápido do que eu, em outros, eu não tinha forças para tentar qualquer coisa. A rotina me sufocou e eu havia prometido que jamais permitiria que isso acontecesse de novo, mas aconteceu. Foi como uma avalanche que soterra tudo o que vê pela frente e, pesar de eu ter jurado que não deixaria, aconteceu: a vida me soterrou.

Sei que promessas também são quebradas e me perdoo por isso, porque, às vezes, a gente faz o que pode e nem sempre é suficiente. Este ano, precisei expandir o amor, a paciência e resiliência. Minha fé meio que adormeceu e precisou ser despertada da pior maneira: desespero. Só um filho precisando faz a gente reaprender a rezar e, Deus, como rezei!

Este ano eu dormi ou tentei. Não consegui manter aquele ritmo frenético de amanhecer escrevendo . Precisei dormir, desligar minha cabeça, ouvir bobagens na televisão. Recorri à anestesia tão velha conhecida da nossa sociedade e isso é meio triste.

É que pensar nos tempos de hoje tem doído, não é mesmo? A política nos consumiu, o preço do mercado, as frases, os gestos, o mal do mundo invadindo nossa vida sem nem pedir licença. É triste ver as pessoas confortáveis na ignorância e isso só aumentou o meu desejo de isolamento.

Apesar de todo esse peso dos parágrafos anteriores, preciso dizer que já cheguei em uma idade em que altos e baixos não me surpreendem. Sei que nem sempre vai ser bom ou empolgante. Muitas vezes é no baixo que a gente tem que viver e, neste ponto, toda energia gasta em manter nosso mundo no lugar, em sobreviver sempre será uma energia bem gasta, mesmo que não sobre muito para outras coisas, nem que custe o escrever.

O lado bom é que a gangorra sobe e, mesmo que precise de esforço, as coisas se ajeitam. O ano acabou, alguns problemas também e, mesmo que nem tudo tenha solução, a vida continua. Hoje haverá noite e amanhã haverá dia e não há nenhuma inconstância que sobreviva e constância que Universo impôs.

Ano novo sempre chega com tom de cobrança, mas eu já calejei disso. Por aqui, nada de resoluções, a gente precisa aprender a viver um dia de cada vez, pois no fim é isso mesmo. O único compromisso é respirar fundo quando a avalanche vier e manter a força para emergir quantas vezes forem necessárias. Emergir sempre.

Um pensamento sobre “O ano que não vivi.

  1. 2019 foi pesado em diversos aspectos por aqui também, dá até um conforto ler essas palavras e reacender o anseio de emergir sempre.
    Mas também destaco que, não importa o movimento da gangorra, a turma do apoio segue firme, mandando boas vibrações de paz, sempre.
    Tamo junta, sempre.

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