Replantar.

Amo plantas, amo jardim, amo. Uma casa sem plantas é uma casa mais triste, tenho certeza. Só tem um porém, sou péssima com elas. Não entendo de jardinagem, fui criada em ambiente urbano e não possuo “dedo verde”. Mas gosto. Amo. Faz um bem danado dividir minha casa com elas.

Foto por Alex em Pexels.com

E aqui está o dilema: amar o que não sabe cuidar. Como é que a gente ama algo e acaba deixando morrer? Por muitos anos, eu comprei e joguei fora muitas plantas. Coloquei muitas flores pela casa, para, semanas depois, ver vasos tristes espalhados. Por muito tempo, eu desisti também, comprei flores artificiais que comprovavam o meu fracasso em relação às naturais.

Acontece que amar algo é aceitar que aquilo é necessário para compor sua felicidade. Pode ser animal, planta, livros ou tudo isso junto. Eu preciso das plantas, o meu ser adora um verdinho então eu só tinha uma escolha: aprender.

É claro que eu continuei (continuo) falhando, pois aprendizado é caminho que não acaba, mas, replantei alguns vasos esta semana e notei que a maioria delas estava indo muito bem. Aprender também é se conhecer, percebi que sou melhor com algumas plantas do que com outras: as orquídeas de um tipo sempre sobrevivem, as outras não. Talvez isso signifique que amor depende de afinidade. Vai ver, algumas espécies não curtem muito jardineiras amadoras.

Tem sido assim com as plantas e com gente. Porque amar exige mais do que parece. Você, às vezes, vai ter que aprender que algumas espécies precisam de mais atenção do que outras. Que algumas gostam de sol e outras de sombra e vai ter que aceitar que muitas não ficarão por muito tempo. Vai notar, acima de tudo, que dá trabalho cuidar de todas elas e que, muitas não aceitarão a mínima falha.

Mesmo assim, com todas as dificuldades e falhas no meio do caminho, é preciso continuar aprendendo e cuidando, experimentando o que dá certo, cortando o que deu errado e buscando soluções, porque você precisa delas pra ser feliz, lembra? Uma casa sem plantas e uma vida sem pessoas é mais triste, estou certa disso. Então nem que seja um vaso, um par de gente, é importante não parar de tentar por elas, mas, sobretudo, por você.

Um ano vazio.

Foto por Du01b0u01a1ng Nhu00e2n em Pexels.com

O mundo ficou vazio
As ruas quietas, assombradas pelo susto
O coração mudo.
Luto.

Medo, silêncio, dúvida
O invisível invadiu a vida
A casa, o corpo
A rotina.

Perdemos a liberdade
O laço, o abraço
Perdemos presença
Aconchego pro cansaço

Perdemos pessoas
Amores, amigos
Perdemos o juízo!

O mundo ficou dividido
Entre cuidado esperançoso
E negacionismo embaraçoso
Perigoso.

O mundo ficou dividido
Entre isolamento mudo
E gritos de socorro
Meus, seus, nossos
SOCORRO!

Medo, barulho, certeza
O visível invadiu os dias
Números, estatísticas
Realidade doentia

Perdemos a noção do tempo
O templo
Ganhamos o imediatismo
A ilusão de controle
Perdemos os planos
E descobrimos o hoje
Só hoje.

O mundo ficou vazio
Cuidado, senso coletivo
Sumiu
Será que existiu?

Mas quero acreditar
Que você, eu
E mais alguém
Continuamos no bem
Fazendo o nosso
No caminho tortuoso
(e muitas vezes solitário)
Do eu posso!

Um ano vazio
Cheio de lágrimas
Por tudo que pereceu
Cheio de esperança
Por tudo que permaneceu.
O mundo enterrou,
Mas também nasceu

E neste ano eterno
Que, ainda assim, esvaneceu
Entre os intermináveis dias teus
E também os meus
A vida, meu amigo,
Aconteceu.

Chris Melo